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Apaixonada por caminhões, a primeira motorista de ônibus de Rosário segue em busca do sonho

“O homem é do tamanho do seu sonho”, já dizia Fernando Pessoa. Nessa linha, a rosariense Andréa Berriel é grande no desejo de realizar o seu. A primeira motorista de ônibus de Rosário do Sul, hoje, dirige caminhões e é firme em seu objetivo: trabalhar somente com os veículos de grande porte, seja na estrada ou em competições.

Foto: Viviane Macedo

Com 39 anos, a motorista é conhecida na cidade pela atuação em um mercado ainda dominado por homens. Berriel, que já virou notícia nacional, foi tema de reportagem para a Petrobrás e participou do programa Siga Bem, do SBT, que ainda não foi ao ar.

Determinada e decidida, ela não desiste dos objetivos que traça, mas confessa que nem sempre foi corajosa na hora de assumir a direção. Berriel tirou a carteira de motorista com 18 anos. Ainda assim, o medo e a insegurança faziam parte da rotina na época. “Eu morria de medo, estacionava na frente de uma churrascaria e tinha um medo de subir para o centro. Na sinaleira eu tinha pavor”, confessa.

Ela relembra que foi para manter o emprego em um restaurante local que enfrentou a insegurança. “Eu precisava dirigir para fazer as entregas. Um empurrão faz toda a diferença”, destaca. Berriel conta que a primeira camioneta que dirigiu foi a Pampa da empresa. Como não tinha carro próprio, treinava na praia para praticar. Mesmo com as inseguranças, ela sempre teve uma certeza: a determinação. “Mesmo com medo eu sabia que ia conseguir, nunca desisti”, afirma.

Desde então, sempre trabalhou dirigindo. Em 2013, após voltar a morar em Rosário, ela foi cobradora de ônibus. Alguns meses depois, decidiu tirar a carteira de motorista para veículos maiores e fez o teste para condutora do coletivo. “Meus colegas me incentivaram e me ensinaram muito”.

Após assumir a função, durante sete meses, Berriel era a atração dos passageiros. Como a maioria já a conhecia pelo trabalho como cobradora, a receptividade no novo cargo foi tranquila e, em alguns momentos, engraçada. “Uma vez um senhor estava na parada fumando, eu perguntei se ele ia subir. Ele disse que ia esperar o motorista chegar. Quando eu disse que era a motorista ele se surpreendeu, deu risada e subiu”, conta.

Na época, a equipe da Gazeta de Rosário fez uma reportagem com a motorista. Desde lá sua determinação e foco eram visíveis. Ao falar sobre a matéria ela conta que o pai plastificou a página e guardou. “É como um tesouro para ele e um reconhecimento pra mim”, salienta.

Foto: Viviane Macedo

Trajeto rumo à realização dos sonhos

Há dois anos ela trabalha em uma agropecuária, no escritório e na condução de um caminhão. Conviver diariamente com sua paixão deixa a motorista ainda mais certa sobre sua meta: trabalhar somente com caminhões. “Eu quero a Super Truck e ainda vou chegar lá”, enfatiza. Berriel é otimista e sempre busca incentivar os outros. Um exemplo é o marido que não dirigia e, por insistência dela, já possui habilitação. Na casa de Berriel ninguém tem carteira. A paixão por veículos, e ainda pesados, não tem explicação.

Ao falar sobre o preconceito, Berriel se sente privilegiada. “Não vi esse lado. Onde eu bati, as portas se abriram e as pessoas foram solidárias”, afirma. Ela incentiva as mulheres que tem vontade a seguir esse caminho e não desistir. “Queremos mais mulheres dirigindo carros pesados”.

Ela conta que, junto com outros profissionais do ramo, está se organizando para montar um grupo de caminhoneiros na cidade.

Sem carro, nenhum envolvimento familiar próximo com caminhões e um mercado de trabalho predominantemente masculino. Esses três fatores poderiam ter desestimulado a motorista, mas ao invés disso, o apoio recebido e a força de vontade a fizeram seguir adiante. “Não acho que as pessoas devam desistir. Leve o tempo que for, tenha paciência, mas não deixe de ir atrás de seus sonhos”, aconselha.

Reportagem: Natalia Apoitia / Gazeta de Rosário
Fotos: Viviane Macedo

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