O mês de fevereiro foi marcado por um aumento significativo nos casos de violência doméstica em Rosário do Sul. Os crimes relacionados à lei Maria da Penha somaram quase 30 casos em menos de 20 dias. As situações envolvem ameaças, agressões e desobediência de medidas protetivas, entre outros.
Os registros foram feitos entre os dias 2 e 18 de fevereiro. Em grande parte deles, as vítimas ficaram feridas, incluindo uma mulher grávida de cinco meses, outra que havia dado à luz recentemente e uma idosa que também estaria passando por maus tratos. As ocorrências foram atendidas pela Brigada Militar e registradas na Polícia Civil. A maioria das vítimas solicitou medidas protetivas.
A gestante foi agredida no último dia 7, na zona oeste da cidade. A Brigada Militar foi acionada para atender o caso às 2h15 da madrugada daquela data, após ser comunicada via 190 de que havia uma briga no local. Lá, os policiais militares encontraram a vítima, de 27 anos, grávida de cinco meses, na casa de uma vizinha. Ela relatou ter sido agredida pelo companheiro de 21 anos, que a impedia de ir embora, pois ela havia decidido terminar o relacionamento e ir morar com seus familiares. Ele teria empurrado a mulher contra um armário, que a atingiu na cabeça, deixando-a com lesões leves. Além disso, ele estaria armado com uma faca e estaria ameaçando tirar a própria vida. A jovem teria convencido o rapaz a desistir e entregar a arma branca. A vítima grávida foi encaminhada para o Hospital de Caridade Nossa Senhora Auxiliadora (HCNSA) pela BM, sendo medicada e liberada. A faca usada pelo acusado, de 15 cm de lâmina, foi apreendida. A gestante solicitou medidas protetivas.
Um dia depois disso, 8, uma mulher parturiente sofreu agressão, também na zona oeste da cidade. A BM foi acionada por volta da meia noite para atender o caso. Conforme o registro policial a vítima de 34 anos, que havia passado por cirurgia de cesariana há menos de um mês, foi agredida pelo seu ex-companheiro, de 29 anos. A filha da mulher, de apenas 10 anos, também sofreu agressão ao tentar intervir na situação, enquanto o homem segurava sua mãe pelos braços após jogá-la na cama. A criança foi lançada ao chão pelo acusado. Após, ele saiu da casa e ainda atirou pedras no imóvel. Devido às agressões, a vítima rompeu os pontos da cirurgia. Já existia uma medida protetiva em vigor que proibia a aproximação do homem e a vítima reforçou esse pedido. Ela e a filha foram encaminhadas para o auto exame de corpo de delito (AECD). O caso foi registrado como lesão corporal consumado.
Já o caso da idosa foi registrado no dia 2, igualmente na zona oeste da cidade, por volta das 19h40. Após denúncia, a BM constatou que a vítima, uma idosa de 72 anos, pode estar sofrendo maus tratos por parte do seu companheiro, de 88 anos. O local estava com condições precárias, sem instalação sanitária e sem luz elétrica. A vítima apresentaria sinais de confusão mental, não conseguindo se expressar com clareza e se mantendo calada na presença do acusado. Ele confessou ter dado um tapa na mulher. Na DP, foi constatado que existe um processo judicial onde a idosa está interditada, sendo o acusado seu curador. O idoso foi inquirido sobre os fatos e se manteve calado. A vítima apresentava péssimas condições de higiene corporal e possuía escoriações, conforme atendimento ambulatorial. Uma faca foi apreendida no imóvel.
Outras nove mulheres foram agredidas fisicamente pelos seus ex e atuais companheiros e ficaram lesionadas nesse intervalo de tempo. Quatro desses casos ocorreram durante o feriado de Carnaval. Em um deles, uma discussão do acusado com a filha da vítima em virtude da roupa que a mesma usava acabou com agressões à mãe da menina, atingida pelo homem com um martelo. Em outra situação, o acusado teria ainda tentado esfaquear a mulher, mas foi impedido por familiares que presenciaram a agressão. Em todos os crimes foram solicitadas medidas protetivas para manter os acusados afastados das vítimas.
Cinco acusados descumpriram medidas protetivas e sete mulheres foram ameaçadas
Os outros doze casos registrados nos primeiros 18 dias de fevereiro envolveram descumprimentos de medidas protetivas aliados a ameaças e agressões.
O mais recente deles ocorreu no último sábado (17), na zona norte da cidade. A vítima, mulher de 27 anos, registrou, por volta das 11h30, que seu ex-marido, de 37 anos, invadiu o imóvel que ela reside, na sua ausência. Uma testemunha presenciou o fato. O homem desobedeceu medidas protetivas que o impedem de se aproximar da mulher, devido à violência doméstica sofrida por ela menos de uma semana antes, no dia 11, quando foi espancada pelo acusado e ficou com hematomas pelo corpo.
Em um dos casos, o descumprimento ocorreu por parte de uma mulher, filha da vítima. A jovem de 19 anos havia ameaçado a própria mãe e, após o pedido das medidas protetivas, retornado à casa, embriagada. Ela foi presa e recolhida ao Presídio Estadual de Rosário do Sul.
Além desses, outros três homens desobedeceram as medidas protetivas e voltaram a importunar e ameaçar as vítimas nesse meio tempo.
Dos casos de ameaça, o que mais se destaca é o ocorrido no dia 2, quando um homem de 33 anos apontou um revólver calibre .38 para o rosto da ex-companheira, de mesma idade. O registro foi feito pela vítima no dia 5. Ela relata que o acusado fez as ameaças após o término do relacionamento, primeiro por telefone, e depois presencialmente, na casa da mulher, pela tarde. Segundo a própria, ele ainda queria levar o filho da vítima, um recém-nascido do qual ele não é o pai. O acusado teria ido embora levando pertences da vítima. Ela solicitou medidas protetivas de urgência.
Outros seis casos de ameaça se somam a esse. Em um deles, mãe e filha foram ameaçadas pelo homem, pai da menina de 16 anos, que estaria embriagado. Em outros dois, mulheres foram ameaçadas pelos próprios filhos, que exigiam dinheiro, além de uma senhora de 64 anos ameaçada por um adolescente de 15, que afirma que irá matá-la.
Dentre todos os casos citados, apenas a jovem de 19 anos que descumpriu medidas protetivas em favor da mãe foi recolhida ao presídio.
