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Setembro verde e a doação de órgãos

Setembro é tempo de conscientização sobre duas atitudes de valorização da vida – a sua e a do próximo. O mês é amarelo para prevenir o suicídio, e ao mesmo tempo é verde para estimular a doação de órgãos.

Em apoio às causas, a Gazeta de Rosário produziu duas reportagens especiais com o intuito de divulgar e elucidar dúvidas sobre as questões. Neste primeiro momento, o enfoque será o setembro verde. No próximo sábado, outra reportagem abordará o delicado assunto do suicídio.

Dados divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) apontam que no primeiro semestre de 2018, houve um aumento na taxa de doadores efetivos no país. No entanto, em relação ao ano passado, houve uma diminuição de transplantes renais (3,7%) e cardíacos (0,5%). Já os transplantes de pâncreas e fígado aumentaram, respectivamente, 3,6% e 2,6%. O transplante de pulmão, por sua vez, teve um acréscimo de 16,1% no primeiro semestre, o que corresponde a 65 transplantes.

O relatório apresenta, também, o número de pacientes ativos na lista de espera por transplante: 32.716, sendo 21.962 pessoas aguardando transplante de rim e 1.239 de fígado. No Rio Grande do Sul, o número de pessoas na lista de espera é de 1.303.

A rosariense Vanessa Simas é uma dessas pessoas. Ela tem bronquiectasia, uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), e outras restrições pulmonares. Com isso, o pulmão esquerdo ficou totalmente inativo e o direito não consegue trabalhar sozinho. Por isso, ela necessita de oxigênio constantemente.

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Em entrevista à Gazeta, Vanessa relatou que a doença é uma sequela de outro tratamento. “Dos meus 17 aos 22 anos, tratei de um linfoma com quimioterapia e radioterapia, até chegar ao transplante autólogo de medula óssea. Esse linfoma foi combatido e vencido, mas devido às radioterapias fiquei com sequelas nos pulmões, que chegou à fase aguda agora”, disse.

Em 15 de junho deste ano, ela entrou na lista de espera para transplante de pulmão, mas ficou efetivamente ativa no início de julho, quando passou a morar em Porto Alegre com sua mãe. A mudança foi necessária, pois há um acompanhamento com reabilitação pulmonar, apoio psicológico e consultas médicas periódicas. Conforme o relatório da ABTO, no primeiro semestre deste ano, 86 pessoas aguardavam pelo transplante deste órgão.

Vanessa é servidora pública municipal, função da qual está licenciada desde janeiro, e cursa direto na Urcamp, em São Gabriel, mas está afastada desde dezembro. “Até bem pouco tempo atrás, mantinha minha rotina de atividades de trabalho e estudo em Rosário. Claro que de maneira adaptada, de forma mais desacelerada, digamos assim. A cada mês, principalmente do ano passado pra cá, minha capacidade pulmonar vinha diminuindo”, disse a rosariense.

Para ela, a força e a esperança pelo transplante vêm da família. “Eu costumo dizer que não sou só eu que estou na lista do transplante, é toda a família, pois a logística da mudança pra cá envolveu a todos”, completa. Vanessa só pretende volta para Rosário quando estiver com o pulmão novo, o que pode levar meses ou anos. O transplante depende da compatibilidade com o órgão, tipo sanguíneo e tamanho do tórax.

“A conscientização é a única maneira de familiarizar o tema da doação”

Com o intuito de divulgar o setembro verde, o Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre solicitou que os pacientes publicassem um vídeo nas redes sociais se identificando e incentivando a doação de órgãos. Vanessa fez a sua parte e ficou animada com a repercussão. “Rompi com a minha timidez e resolvi me expor, está sendo super legal. A conscientização do assunto é a única maneira de familiarizar o tema e assim, fazer com que as pessoas se manifestem favoráveis a doação de órgãos”, relatou.

Conforme a Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), após a constatação de morte encefálica, completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro, o doador é capaz de salvar mais de vinte pessoas, podendo doar córneas, coração, fígado, pulmão, rim, pâncreas, ossos, vasos sanguíneos, pele, tendões e cartilagem.

O doador em vida deve ter mais de 21 anos e boas condições de saúde. A doação só ocorre se o transplante não comprometer suas aptidões vitais. Rim, medula óssea e parte do fígado ou pulmão podem ser doados entre cônjuges ou parentes de até quarto grau com compatibilidade sanguínea. No caso de não familiares, a doação só acontece mediante autorização judicial.

No Brasil, para ser doador não é preciso deixar nada por escrito, é preciso apenas comunicar a família, pois somente os parentes podem autorizar a doação. Em 2017, no Rio Grande do Sul, foram notificadas 789 mortes encefálicas. Desse total, 43% das doações foram recusadas pelos familiares.

Apesar das dificuldades, Vanessa se mostra esperançosa em relação à espera e sabe que em breve estará de volta em Rosário. “Só em saber que ainda tenho essa alternativa de realização o transplante, eu me sinto super confiante que logo tudo isso vai passar e será mais uma batalha vencida, assim como foi o linfoma há anos”, declarou.

Reportagem: Larissa Hummel / Gazeta de Rosário
Foto: Divulgação

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