Apesar de perigosa / É de muita serventia, / Na lida do dia a dia / Seja no campo ou galpão, / Pode até “salva um cristão” / Quem vem inlhado no laço, / Nessa hora o fio do aço / É de grande precisão. Assim termina a música vencedora da 31ª Gauderiada da Canção Gaúcha de Rosário do Sul, que aconteceu neste fim de semana, entre os dias 11 e 12 de janeiro, como já é de costume no município.

A Serventia da Faca representava a cidade de Santiago, mas sua letra, ritmo, arranjos e interpretação, na verdade, traduzem o Rio Grande do Sul como um todo, principalmente aqueles que trabalham de sol a sol, no lombo do cavalo, em contato direto com a natureza e dela dependendo. Tarefa árdua e cansativa, mas que é tão bela que fica encravada na alma do gaúcho, até mesmo naqueles que em nada se identificam com os termos citados no refrão acima ou desconhecem a vivência do campo.

O que mais chama atenção nesse tipo de evento – em particular o de Rosário, que é dos mais conhecidos do Estado –, é observar como o nativismo cativa o povo riograndense. Pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais dividem o mesmo espaço, em um ritual que remonta a três décadas. São veteranos cultivando costumes, herdeiros de práticas que conheceram com pais e avós, e novatos que chegam de fora para aprender esse jeito simples de fazer uma festa, com cadeiras de abrir, chão batido, barracas improvisadas e o cheiro de churrasco tomando conta de um parque inteiro.

Entre poréns e todavias, que sempre estão presentes em qualquer que seja o acontecimento que exija uma organização dedicada e englobe um grande número de pessoas, esta Gauderiada veio para coroar tudo aquilo que ela representa para o município e seus cidadãos. Uma apresentação coletiva de alto nível, com crianças, adolescentes e adultos gritando a plenos pulmões o orgulho de que tem de sua terra e a beleza de cultivar as raízes.