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Caverna de animais pré-históricos é descoberta em vinícola de Santana do Livramento

Chamada pela comunidade de toca do tigre, uma caverna escondida na mata nativa do terreno que pertence à vinícola Almadén, em Santana do Livramento, é na verdade uma paleotoca, nome dado a abrigos utilizados por animais pré-históricos.

O local fica a cerca de 90km de Rosário do Sul. A descoberta foi feita entre novembro e dezembro do ano passado, e foi tema de reportagem publicada pela GZH na última quinta-feira, 26.

O laudo reconhecendo o local como paleotoca foi realizado pelo geólogo Serlecio Guilherme Pinz, contratado pela Almadén, do Grupo Miolo, para analisar do que se tratava o buraco no meio de rochas, situado a sete quilômetros da sede da vinícola. Ele identificou resquícios de possíveis marcas de preguiça-gigante (Lestodon ou Glossotherium) e de tatu-gigante (Pampatherium), animais que viveram entre a região do pampa e da Patagônia e foram extintos. 

De acordo com o geólogo, em entrevista à GZH, a paleotoca deve ter aproximadamente 200 mil anos e nunca havia recebido muita atenção. Resquícios de marcas de garras de preguiça-gigante, que possuía três ou quatro metros de altura, que pode ter vivido há 200 mil anos, e de um tatu com um metro e meio de altura, bem diferente do nosso tatu de hoje, que pode ter vivido lá há 35 mil anos, foram identificados no local

Segundo Pinz, a paleotoca tem 35 metros de profundidade. Na marca dos 25 metros fica o espaço onde a preguiça-gigante dormia e, até ali, a altura da caverna é de três metros. Dali em diante, a altura cai para menos de um metro, e seria onde o tatu-gigante descansava.

“A preguiça-gigante usava essa toca para repouso, para dormir. Achamos que era uma fêmea com filhotes. Por uma evolução climática da Terra, pelo aquecimento, a preguiça-gigante se extinguiu. Passado um grande tempo, o tatu identificou esse espaço e resolveu ocupá-lo na parte mais para dentro, porque o tatu tinha vários predadores”, explica. 

A paleotoca ainda deve ser registrada no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/Cecav). Segundo o paleontólogo Leonardo Kerber, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cada vez mais tem se reconhecido paleotocas no Rio Grande do Sul, principalmente nos últimos 15 anos. A literatura científica indica que seus possíveis construtores teriam sido mamíferos do grupo dos xenartros, que inclui preguiças e tatus-gigantes. 

Registros pré-históricos em Rosário do Sul

Em 2017, biólogo Heitor Francischini encontrou rastros de anquilossauros no Cerro Torneado – na localidade da Cruz de Pedra. A descoberta em Rosário do Sul configura a evidência mais antiga destes dinossauros na América do Sul. Francischini visitou o município Rosário para examinar pegadas já existentes, mas, surpreendentemente, ele e a equipe se depararam com novas marcas. Na Bolívia e na Argentina existem registros de anquilossauros – tanto ossos, quanto pegadas. Contudo, são bem mais recentes que os encontrados em Rosário do Sul.

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As cidades de Rosário do Sul e Santana do Livramento estão assentadas sobre uma camada de rocha denominada Formação Guará. Essas rochas foram formadas no final do Período Jurássico, há cerca de 155 milhões de anos. Naquele período, a região era coberta por um deserto com dunas de areia e canais fluviais efêmeros. Todos os animais que passavam por ali deixavam pegadas e trilhas impressas na areia. Com o passar dos anos, a areia se tornou rocha (arenito), mas ainda é possível ver as pegadas.

Foto em destaque: Serlecio Pinz/Arquivo Pessoal

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