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DE ROSÁRIO PARA ROSÁRIO: Como teria dito David Coimbra…

De uns tempos para cá, ando particularmente interessado em curiosidades geográficas. Aqui vai uma, se somarmos apenas os territórios dos 14 municípios da região da Campanha, teremos uma área que excede o tamanho de países como a Bélgica, Dinamarca, Israel, Países Baixos ou Suíça.

Parece loucura, não? Como países com dimensões tão reduzidas podem ser viáveis e até muito mais prósperos que o nosso? Aí que está: embora eles sejam relativamente pequenos de fato, há dezenas de nações totalmente funcionais com tamanho parecido ou ainda menor. É o nosso parâmetro de país que foge à regra e que nos faz acreditar erroneamente que tudo que não for imenso está fadado à inoperância ou mediocridade.

Naturalmente há consideráveis vantagens em sermos tão grandes. A congregação de forças permite realizações que de outra maneira seriam impossíveis. Da mesma forma, nações com o tamanho da Estônia também têm as suas, sendo a principal delas as conveniências do autogoverno. Foi pensando em conciliar o melhor dessas duas realidades que os países europeus conceberam a sua famosa União. 

O Brasil, contrariamente, começa sua trajetória em 1822 como uma amálgama rígida e centralizada na figura de um monarca controlador, com as vastas áreas que o compunham com pouca margem para seu autogerenciamento. Esse modelo se mostrou fracassado aqui e no mundo por várias vezes, e por isso fizemos algumas tentativas de dar aos estados algum poder de ação, sempre sem o sucesso esperado. No entanto, já passou da hora de consertarmos também essa conciliação bem-sucedida entre o micro e o macro.

Após a derrota apertada de Aécio Neves na também dramática eleição de 2014, em que o racha nacional atual já era evidente, David Coimbra escreveu sobre como a autonomia estadual seria parte da solução para a cizânia política brasileira, comentando o bem-sucedido exemplo americano que ele passou a vivenciar de perto após a sua mudança para Boston. O problema não eram os candidatos ou partidos, mas conceder poderes quase imperiais a um mandatário rejeitado por tantas pessoas. Na época, ele foi chamado de mau perdedor por petistas que tiveram de lhe dar razão quatro anos depois, com a eleição de Jair Bolsonaro. 

Das nove eleições presidenciais realizadas desde 1989, os gaúchos só elegeram seu candidato de preferência em duas delas, Lula em 2002 e Bolsonaro em 2018. Não há estado na federação tão mal representado pela instituição da presidência da república, seja ela ocupada por líder de direita ou esquerda, quanto o Rio Grande do Sul. Essa é a manifestação de uma antiga verdade, hoje praticamente esquecida. Uma verdade que os vultos que dão nome a nossas praças, ruas e cidades tinham como certa, a de que o estado gaúcho precisa de autonomia para não fenecer. 

Os heróis farroupilhas diziam há quase 200 anos que o Rio Grande não deveria ser regido pelas mesmas leis que vigoram em outras regiões do país. Isso não se deve ao fato de sermos melhores ou piores – é sempre bom lembrar – ou apenas em razão de nossas preferências eleitorais, mas porque somos um país heterogêneo, e nossas diferenças produzem aspirações e necessidades dissimilares.

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Se qualquer coisa dita até aqui pareceu fazer sentido, pode ser que o leitor esteja descobrindo agora que é ao menos um pouco federalista, e a nossa missão como federalistas não é tanto eleger candidatos quanto buscar a descentralização necessária de poder para que ninguém volte a crer que o destino de todos dependa tanto da eleição de apenas um.

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