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DE ROSÁRIO PARA ROSÁRIO: Neymar e a geração decepção

Falar em Neymar é como mexer em um vespeiro. Ainda me impressiona a quantidade de marmanjos que saem em sua defesa como se fossem fãs adolescentes de um conjunto de K-pop, adulando-o de forma patética. As pessoas gostam dele tanto quanto o odeiam. Também pudera, ele é um sujeito muito talentoso, o que pode encantar, mas não é o tipo que inspira muita simpatia.

No mês passado, foi noticiado que o jogador estava com nova lesão no tornozelo que o afastará dos gramados por aproximadamente quatro meses. Já com 31 anos e à luz do seu desempenho insuficiente na Copa passada, começaram os balanços da sua carreira até aqui e a conclusão geral não é novidade, Neymar nunca fez aquilo que se imaginou que um dia faria.

Não surpreende, longe de ser um caso isolado, Neymar é o retrato magnificado de uma geração inteira. Falo com propriedade, pois a geração de Neymar é a minha própria. Refiro-me a ele assim como a mim mesmo e a tantos outros que conheço.

Grande parte das pessoas que nasceram por volta dos anos 1990 cresceu em um ambiente protegido. Da mesma maneira que Neymar, éramos constantemente lembrados de nosso imenso potencial por todos a nossa volta. Ainda muito novos, estávamos convictos de nossos dons naturais. Sem perceber, desprezávamos o esforço e o comprometimento.

Chegamos à vida adulta dominados por uma húbris nem sempre tão sutil, algo que remete ao “monstro”que René Simões alertou que o jogador poderia se tornar, ainda no início de sua carreira. Como bons jovens que éramos, achávamos que tínhamos tempo ilimitado. Desperdiçamos milhares de horas preciosas em atividades inúteis. Afinal, estávamos implicitamente convencidos de que a grandeza era o nosso destino e de que logo ela bateria à porta. Entretanto, as horas se avolumaram em anos, e agora muitos de nós podem dizer com amargura de suas vidas o mesmo que dizemos da vida de Neymar.

É bem verdade que nunca fomos tão especiais quanto se acreditou que fossemos, a maioria de nós não pode esperar muito mais do que uma vida convencional e mesmo Neymar nunca foi um sucessor de Pelé, como declararam alguns emocionados no passado. 

Além disso, muitos outros noventistas devem estar satisfeitos com existências mais relaxadas, aquém das próprias possibilidades. O craque do Paris Saint-Germain, por exemplo, já deu muitas demonstrações de que prefere usar as habilidades que tem para patrocinar trivialidades hedonistas privadas do que devotar a vida a um projeto maior, como faz Cristiano Ronaldo. 

Sem falar de que nem tudo pode ser colocado em nossa conta. Neymar não é responsável pela expectativa depositada em suas costas, ele não é o culpado por todas as suas lesões ou pela cota injustificada da antipatia pública com que sofre. Assim como nós também não tivemos culpa pela conjuntura econômica desfavorável, pela avalanche de distrações medíocres proporcionadas pela internet que nos pegou desavisados ou por qualquer desastre que tenha acometido a vida de cada um de nós. Ainda assim, terceirizar a causa do fracasso não servirá para inocentar grande parte dos membros da nossa geração.

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A sorte que temos é de que ainda há esperança. Se encontrarmos nossa força e estivermos em dia com nossa saúde, algo que também não temos feito, ainda teremos vários anos de vida para trilhar um sólido caminho de realização. Para Neymar não é diferente, a consagração tão adiada pode se tornar realidade com a saída do PSG, na próxima Copa ou até fora do futebol. O jogo ainda está longe de acabar.

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