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DE ROSÁRIO PARA ROSÁRIO: O dia do bioma sem novela

Olha a tua volta, caro leitor, e verás que tudo que o sol toca é o Bioma Pampa. Ou era, tendo em vista que se trata do bioma brasileiro mais degradado depois da Mata Atlântica.

Não se fala muito disso, pois os ecossistemas abertos têm sido relegados a um patamar de menor importância para os esforços de preservação ambiental no mundo todo, especialmente no Brasil.

O Pampa nunca batizou novela, não serve de cenário para obras audiovisuais de ficção, sua degradação não causa a comoção dos astros de Hollywood e a sua necessidade de conservação também não motivará campanhas de conscientização promovidas por Gisele Bündchen ou alguma fabricante de cosméticos. Ainda assim, ele importa.

O Bioma Pampa é um conjunto de ecossistemas que se caracteriza pela preponderância de formações campestres naturais. Originalmente cobria apenas 2,3% do território brasileiro, mas 68,8% do território gaúcho e 100% da área do município de Rosário do Sul. Por séculos, a ocupação humana moderna esteve em relativa harmonia com a natureza pampiana, pois a pecuária tradicional protege a sua biodiversidade, em vez de reduzi-la, como ocorre em áreas de formação florestal.

Desde 1985, no entanto, pelo menos 3,4 milhões de hectares de vegetação nativa foram suprimidos do bioma pela ação antrópica – algo equivalente a quase 5 vezes a área do município de Santana do Livramento. É a maior perda relativa entre todos os biomas brasileiros no período. Ao todo, 46,7% da vegetação original do Bioma Pampa já foi substituída, especialmente para o uso na agricultura, silvicultura e mineração. E não há nada que indique que esse percentual deva estacionar nos próximos anos, já que apenas 3% da área do bioma se encontra em unidades de conservação.

O Pampa é um hub para aves migratórias e é o bioma brasileiro com maior densidade de espécies de plantas por metro quadrado. Em toda a sua extensão no Rio Grande do Sul, é o habitat de mais de 3 mil espécies vegetais, entre elas 450 gramíneas forrageiras, e mais de 700 espécies de animais vertebrados.

No Brasil, a despeito de sua megadiversidade natural, os campos do Pampa não têm par. Eles são o caldeirão de onde saíram nossas tradições, constituíram o palco em que se desenrolou a epopéia gaúcha e ofereceram o sustento aos antepassados que pavimentaram o caminho que nos trouxe até aqui.

Amanhã, 17 de dezembro, comemoramos o Dia Nacional do Bioma Pampa. A data foi escolhida em homenagem ao ambientalista pioneiro José Antônio Lutzenberger, que nasceu nesse mesmo dia. É a oportunidade para pensarmos em soluções para os problemas que acometem o bioma hoje. 

De nada adianta antagonizar com os agricultores e silvicultores. Qualquer pessoa sinceramente engajada em salvar os campos do Rio Grande terá de pensar em alternativas economicamente viáveis, aliando produção e conservação, como fazia a antiga economia pastoril.

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Tampouco é inteligente rechaçar qualquer preocupação ambiental como se fosse apenas uma inquietação exagerada da esquerda. Lembremos que Margaret Thatcher, personagem político indiscutivelmente de direita, mas também uma mulher complexa demais para o binarismo infantiloide do nosso tempo, fez no seu governo importantes contribuições para a causa ambiental. Ela sabia da sua importância, e nós temos de saber também.

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