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Morre Tenente Pinheiro, ícone da música e carnaval rosariense

Faleceu no final da tarde de terça-feira (9), aos 97 anos, o músico e militar da reserva do Exército Brasileiro, Francisco Pinheiro Ramos, “Tenente Pinheiro” como era conhecido. Ele deixa um legado de décadas dedicadas à musicalidade, carnaval e cultura afro-brasileira.

Natural de Quaraí, Pinheiro escolheu Rosário do Sul como sua terra, na década de 50, onde constituiu família e longo círculo de amizades. Na juventude, foi marceneiro. Era católico, tendo inclusive participado da Igreja como Coroinha quando jovem. Serviu ao Exército Brasileiro no 2º Regimento de Cavalaria Motorizado (2º RCM) – hoje 4º RCC- onde ingressou como soldado, tendo graduando-se durante o decorrer dos anos. Serviu ao EB também em Santa Rosa e Porto Alegre. Aposentou-se como Oficial no cargo de Tenente, passando a reserva do Exército Brasileiro no 4º RCC em Rosário do Sul. Também foi artesão após aposentar-se do Exército, tendo participado de várias exposições.

Tenente Pinheiro era autodidata, mesmo com pouco estudo tinha facilidade em aprender e exercer inúmeras atividades e funções. Foi por várias décadas músico profissional, animando carnavais no município. Seu sobrinho, o advogado e ex-vereador Odilon Amaral Santiago, conta que o Tenente Pinheiro aprendeu a tocar todos os tipos de instrumentos, seja de sopro, cordas, de percussão entre outros. Foi professor de música e várias gerações aprenderam a tocar instrumentos através dele, inclusive militares do exército.

Tenente Pinheiro com o Saxofone e integrantes do famoso “Grupo X”

Santiago também destaca que Pinheiro era músico instrumentista, tendo sido coautor da composição vencedora do concurso “Uma canção para Rosário”. Integrou também a comissão municipal que modificou o hino da cidade.  Representou Rosário em eventos culturais nas cidades vizinhas, inclusive no carnaval. Era Esperantista, associado à Liga Brasileira de Esperanto, membro da liga universal com sede em Rotterdam na Holanda, por cuja entidade já fora nomeado Delegado, atuante na Fronteira Oeste do Estado.

Como músico, compôs samba-enredo para todas as escolas de samba da cidade, como Embaixadores do Ritmo, da qual foi um dos fundadores, Bambas da Orgia, Os Praianos, entre outras. Por diversas vezes, foi campeão do carnaval de rua. Como tocava todos os tipos de instrumentos musicais, em diversas ocasiões desfilou sozinho no carnaval de rua no bloco chamado “Eu sozinho”, demonstrando sua habilidade ao carregar bateria com platô, bumbo, reco-reco, utilizando inclusive seus passos que davam a marcha sincronizada, arrancando aplausos do público.

Tenente Pinheiro foi criador e atuou por mais de 30 anos com o arranjador de canto do saudoso “Grupo X”. Nele, tocava saxofone, um dos seus instrumentos preferidos. Seu sobrinho, Odilon, também integrou o grupo. “Nosso repertório era de carnavais cantados, sambas que falavam da raiz do carnaval com samba e marcha”, explica Santiago.

Foi sócio e ex-presidente da Sociedade Beneficente Recreativa União Rosariense (SBRUR). Pinheiro possuía grande acervo da cultura afro-brasileira, com coleções de livros. Era atuante no movimento negro rosariense. Na União, também foi expositor e responsável pelo movimento negro do departamento de cultura da entidade.

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Pinheiro recebeu o título de Cidadão Rosariense concedido pelo Legislativo, proposto por Odilon Santiago em seu último mandato como vereador.

O presidente da Escola de Samba Bambas da Orgia, Márcio Augusto Fontoura, expressou a grande perda para Rosário do Sul. “Ele mudou a forma de desfile das escolas de samba em nossa cidade, quando se recusou a fazer sua apresentação em cima de um coreto na década de 60, dando início ao verdadeiro carnaval de rua”, lembrou Fontoura.

Pinheiro estava internado há três dias no Hospital de Caridade Nossa Senhora Auxiliadora (HCNSA) devido a problemas de saúde e faleceu às 17h40 de terça-feira (9). O sepultamento estava previsto para as 16h no Cemitério São Sebastião. Ele deixa quatro filhos, netos e bisnetos.

“Rosário perdeu o último dos boêmios”, concluiu o sobrinho, ao recordar a história de Tenente Pinheiro.

Fotos: Arquivo Pessoal / Odilon Santiago

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