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ENTREVISTA: Pesquisadora Mara Souza analisa a Rosário do Sul do passado e do presente

Nesta quinta-feira (19) Rosário do Sul celebra 142 anos de emancipação político administrativo. Para falar sobre a cidade e elencar alguns pontos importantes da história, a Gazeta de Rosário entrevista Mara Regina de Souza.

Ela é professora aposentada e há 38 anos ministra, voluntariamente, palestras relacionadas à história da cidade. Mara é pesquisadora, escritora e atua em nome de preservação da cultura rosariense. Em sua casa, exibe orgulhosamente seu acervo de fotos, documentos e jornais da antiga Rosário do Sul.

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Gazeta de Rosário – A senhora é considerada uma das maiores conhecedoras da história e da geografia do município. O que despertou esse interesse como profissional?

Mara Regina de Souza – Em 1975, como estagiária na Escola Estadual Padre Ângelo Bartelle, eu senti a necessidade. Em função da disciplina e do ano em que eu estava trabalhando, eu não encontrava material sobre Rosário. Em função da minha mãe recolher muito material, meu pai também, que foi bastante atuante na comunidade de Rosário, bastante conhecedor da história do município, eles me passaram essa vontade. Através de fotografias antigas, que mantenho em meu acervo, e então eu levava pra sala de aula. Fazia recorte de jornais, rótulos que eram produzidos na cidade e que aparecesse o nome de Rosário, eu recolhia e transformava em material. Fui juntando em caixas de camisa. Quando vi, com o passar dos anos eu já tinha um vasto material sobre Rosário. Isso cada vez foi me motivando. Sempre trabalhei com terceiras e quartas séries, que eram estudos da história do município e do Rio Grande do Sul. Então, isso fez com que eu começasse a realizar palestras em 1985. Recebi, também, um grande incentivo da professora Lúcia Moreira para seguir esse caminho.

GR – Nesta quinta-feira, Rosário do Sul completa 142 anos emancipação político-administrativa. Como a senhora enxerga o momento histórico do município?

MR – Na sua privilegiada posição geográfica, localizada às margens da BR-290, a 100 km do Uruguai, a 250 km da Argentina e a 300 km do Porto de Rio Grande. Além das potencialidades como principal rota de ligação rodoviária do Brasil com os países do Mercosul, seus recursos naturais, na sua rica trajetória histórica, e na alta produção agropecuária.

GR – Nesses mais de 140 anos de emancipação, quais questões a senhora ressaltaria como que evoluíram? E quais considera que regrediram?

MR – A evolução está nesse descobrimento dessa posição geográfica privilegiada. A questão da agricultura, também, mais culturas e não só a pecuária Então eu acho que a evolução foi mais nessa parte econômica primária. Quanto à regressão, acredito que foi o fechamento do frigorífico, pra Rosário e pra região toda. Chegava a empregar quatro mil pessoas por safra, imagina o que tinha de movimento em hotelaria, em oficinas, em restaurantes, em hospedarias (…).  Enfim, com o porte que tinha o frigorífico Swift, foi com certeza a grande perda, grande regressão de Rosário.

GR – Se fosse pedido para que ressaltasse três melhores momentos, ou mais importantes momentos dessa história de 142 anos, quais a senhora ressaltaria?

MR – Acho que a inauguração da Via Férrea na Vila do Rosário em 1909. Depois, a chegada da Companhia Swift do Brasil, em 1917. E em 1912 foi uma grande administração pra Rosário, que foi a criação do teatro, da igreja… Depois, eu considero também, a inauguração da BR-290.

GR – Como professora, como a senhora vê a situação da educação no âmbito municipal, estadual e nacional?

MR – Olha, em um âmbito geral, a gente vê com bastante preocupação, porque as escolas continuam tão pobres… Eu tenho 40 anos de magistério, trabalhei 35 anos nas escolas estaduais, municipais, particulares e rurais. E eu vejo que as escolas continuam tão pobres quanto antes. Elas não evoluíram nada. A gente vê tanta riqueza, tanta tecnologia nas lojas, tudo atrai os jovens. Eles têm celular de última geração e a escola, por que tem que continuar tão pobre, tão sem recursos e tão desvalorizada? (…) Eu vejo que a história e a geografia deviam ser integradas. No momento que tu dá uma aula de português ou de literatura, eu acho que a história e geografia se completam (…). Por que não um texto já explorando a língua portuguesa?

GR – Em questões geográficas, como enxerga as mudanças que aconteceram no município no decorrer desses 142 anos? O que pode ser ressaltado nesse sentido?

MR – Eu acho que foi a construção da BR-290, da BR-158, a construção da ponte… Isso mudou a visão (…). De 1909 a 1969 nós temos a era do trem, a balsa e os ônibus que levava a gente pra Santa Maria, Livramento. Com a chegada da BR-290, da BR-158 e a própria ponte, nós começamos a descobrir que estávamos muito perto dos caminhos do Mercosul (…). Percebemos que geograficamente somos muito bem situados e temos tudo pra nos transformar em um polo educacional, cultural, turístico.

GR – Quando em atividade, a senhora despertou o interesse de muitos jovens e crianças para entenderem melhor a cidade onde moravam. Qual satisfação de passar adiante esse conhecimento?

MR – Há oito anos eu estou aposentada e continuo sendo procurada e sempre repartindo conhecimento. Porque no momento que reparto conhecimento eu também recebo conhecimento deles, sempre tem algo novo pra perguntar.

GR – Gostaria de deixar uma mensagem de aniversário para a comunidade de Rosário do Sul?

MR – Eu tenho esperança ainda de ver um Rosário melhor. Com certeza eu tenho. Por isso mesmo que, eu já estou aposentada há oito anos, mas eu continuo trabalhando, procuro participar da vida da cidade, principalmente na parte cultural, no que eu posso fazer.

Perfil

Mara Regina Miranda de Souza é natural de Rosário do Sul, filha de Mário Costa de Souza e Maria Auria Miranda de Souza. Professora aposentada, licenciada em Estudos Sociais e pós-graduada em Psicopedagogia com abordagem escolar, pela Universidade da Região da Campanha (Urcamp). É sócia da Associação Nacional de Divulgação da História Política e da Cultura do Rio Grande do Sul.

Mara já recebeu vários troféus durante sua carreira. Em 1995 foi laureada com o troféu “Mulheres de Expressão” na área cultural. Foi secretária municipal de Educação e Cultura por seis anos, e em 2001 recebeu o Diploma Destaque de Secretária Municipal Mais Atuante. Em 2003 recebeu o troféu destaque “Cultura, História e Projetos Culturais”. Em 2007 foi gratificada com o troféu “Destaque Cultural Gaúcho 2007-2008”. É também autora do projeto “Memória Reunida, Respeito ao Futuro”.

Mara já lançou três livros. O primeiro deles foi em 2004, quando organizou a obra “Rosário do Sul através do tempo – Apontamentos de Mário Ortiz de Vasconcellos”. Em 2007 lançou o livro “Parlamentos de Rosário do Sul – Trajetória de 130 anos”. Sua última obra foi lançada em 2009, intitulada “Paróquia Nossa Senhora do Rosário – 150 Anos de Graças e Bênçãos”. Atualmente, Mara realiza palestras sobre os mais variados temas relacionados à Rosário do Sul.

Reportagem: Larissa Hummel / Gazeta de Rosário
Fotos: Larissa Hummel / Gazeta de Rosário e Acervo / Mara Regina de Souza / Divulgação

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