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O dia em que o Rio Grande parou

Incêndio em boate de Santa Maria vitima mais de 200 jovens e é a maior tragédia do Estado

 

Santa Maria, 27 de janeiro de 2013. A noite era convidativa para um grupo de jovens festejar. Afinal, universitários dão duro e merecem, sim, festejar. Alunos de seis cursos se juntaram e propuseram uma bela festa para angariar fundos para a formatura. Estava tudo certo. Boate escolhida, casa lotada, alegria total. Até que, depois da quinta música do grupo Gurizada Fandangueira, o pior aconteceu.

A banda tinha por costume realizar shows pirotécnicos em meio a suas apresentações. Desta vez, parece não ter dado certo. Os chamados sputniks animavam a galera com as luzes e fogos, quando uma labareda aparece no teto forrado com um revestimento acústico sem tratamento antichamas. Em ato contínuo, o vocalista tenta apagar o fogo com o extintor da casa, que não funcionou. Poucos segundos depois, com o fogo já tomando parte do teto do palco, uma grossa fumaça preta se espalha pela casa e o pânico toma conta. Os mais de mil jovens presentes se espremem para tentar sair pela única porta do estabelecimento. Porta que se mostrou insuficiente para salvar as 231 vidas que tombaram antes da saída.

A noite de festa se transformou em desespero. Familiares e amigos lutavam contra uma casa fechada, sem saídas de emergência, sem janelas, para tirar todos com vida. Celulares não paravam de tocar ao lado dos corpos de jovens que só queriam viver. Estavam mortos, quase todos, asfixiados, na noite que tinham escolhido para sorrir, brincar, namorar, viver.

A maior tragédia da história do Rio Grande do Sul estava acontecendo na frente de milhares de jovens atônitos e chocados. O choro e o desespero deram força para que muitos arriscassem a vida para buscar seus amigos de dentro de um alçapão. Sim, a Boate Kiss era um alçapão. Escondida por uma fachada chamativa, ela engoliu o sonho de centenas de famílias. Ela engoliu sonhos, desejos, alegrias.

No Brasil, desde 1961 não acontecia uma tragédia desse tamanho. Na verdade, apenas em 61 é que aconteceu algo maior, com 503 mortes sob a lona de um circo. Aviões caíram, edifícios pegaram fogo, mas nenhum outro desastre matou tanta gente. E tanta gente tão jovem. No mundo, esse é a terceira maior tragédia em casas noturnas. Somos, infelizmente, referência negativa no planeta.

Depois de 48 horas, quatro pessoas foram presas: os donos da Boate, que teimam em negar responsabilidades e também tiveram seus bens bloqueados pela Justiça, e dois integrantes da banda. A polícia já fez sua perícia. Os bombeiros já tentaram explicar o inexplicável afinal, como convencer um pai de que a casa, que estava com seu alvará vencido, tinha condições de permanecer aberta e receber tanta gente? A presidenta Dilma e o Governador Tarso derramaram lágrimas em Santa Maria e cobraram respostas. Respostas que todos queremos ouvir rapidamente.

A segunda-feira foi de tristeza no Rio Grande. Dezenas de enterros aconteceram em várias localidades. Cidades inteiras choraram seus jovens. Outras rezam para que os feridos sigam vivos. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, 118 pacientes seguem hospitalizados. Destes, 75 em estado crítico, em Santa Maria e Porto Alegre.

E Rosário chora junto. Três dos jovens que tombaram eram daqui. Leonardo, Marfisa e Matheus deixaram familiares, amigos e uma cidade inteira de luto. E essa edição da Gazeta também é em homenagem a eles. Também é para gritar e pedir justiça. Também é para pedir respeito. Também é pra dizer, para todos ouvirem, que queremos nossos jovens vivos.

Bombeiros e voluntários faziam o possível para resgatar vítimas e apagar fogo. Foto Germano Roratto/Especial
Bombeiros e voluntários faziam o possível para resgatar vítimas e apagar fogo. Foto Germano Roratto/Especial
Mais de mil jovens estavam dentro da boate no momento do incêndio, mais de 200 não conseguiram sair vivos. Foto Maurício Barbosa/Especial
Mais de mil jovens estavam dentro da boate no momento do incêndio, mais de 200 não conseguiram sair vivos. Foto Maurício Barbosa/Especial
Tragédia comoveu a todos e é a terceira em número de mortos no mundo. Foto Maurício Barbosa/Especial
Tragédia comoveu a todos e é a terceira em número de mortos no mundo. Foto Maurício Barbosa/Especial

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