Dois rosarienses integram o grupo Gurizada Fandangueira, que tocava no momento do incêndio e que realizou o show pirotécnico que teria ocasionado o sinistro. Um deles é Rodrigo Lemos Martins, 32 anos, guitarrista, que conversou pessoalmente com a Gazeta de Rosário ainda no domingo (27), horas depois da tragédia.
GAZETA DE ROSÁRIO – Quando tu percebeste o fogo?
RODRIGO MARTINS – A esponja do isolamento acústico começou a pingar. Eu estava com a guitarra, tocando. Não acreditei naquilo. Todo mundo demorou para assimilar. O percursionista jogou água e parece que aquilo se espalhou mais ainda. Depois, um segurança tentou apagar com um extintor, que não funcionou. Não tinha mais o que fazer. A fumaça preta era terrível. Todos se empurravam. A imagem foi horrível, nenhum filme de terror que eu olhei até hoje se compara.
GAZETA – Como começou o fogo?
RODRIGO – Na quinta música, quando usamos o sputnik (sinalizador). Foi na hora do gaitaço, para produzir um efeito. O sputnik fica no chão e produz uma chama de mais ou menos 1m70cm. Nunca houve problema. A gente sempre usava. Querem culpar a banda, mas nem o extintor funcionou. A boate não estava em condições.
GAZETA – Existia alguma porta de emergência na boate?
RODRIGO – Não, era só a porta da frente e ela não era de emergência, era normal. O que atrapalhou mais ainda foi um cercadinho que eles fizeram de ferro para alinhar as filas. Nós ajudamos a tirar muita gente. Fizemos o que foi possível.
GAZETA – Vocês já tinham se apresentado neste local e o show pirotécnico era comum à banda. Havia algo diferente dessa vez?
RODRIGO – Eles mudaram bastante o palco. Acredito, inclusive, que se fosse como antigamente, teria morrido mais gente, porque teriam que subir as escadas. Eles deixaram parelho, de madeira e forraram toda a volta de esponja acústica.
GAZETA – O local estava muito lotado?
RODRIGO – Só para chegarmos ao palco levamos uns 15 ou 20 minutos. Tinha umas mil e trezentas pessoas lá dentro.
GAZETA – Qual o seu estado físico? Está machucado?
RODRIGO – Como vocês podem ver, estou arranhado. Tive sangramento no nariz. A perna é o que eu estou sentindo mais, está inchada. Eu caí por cima do pessoal e eles começaram a me pisar. Fui pisado no pescoço e nas costas, tentando escapar. Não consigo dormir. Quando fecho os olhos, lembro de tudo.
GAZETA – Há quanto tempo participava da banda? Chegou a se apresentar com eles em Rosário?
RODRIGO – Eu toquei dois anos e saí. Tinha voltado a fazer parte do grupo há dois meses, mas nunca tocamos juntos aqui.
GAZETA – E quanto a tua família aqui em Rosário?
RODRIGO – Sou casado e tenho três filhos, duas gurias e um guri. O guri tem sete meses, ele parece que pressentiu antes de eu ir para lá. Bateu nas minhas costas, me cheirou para eu virar para ele, encostava o nariz no meu. Ele nunca fez isso. Na hora do desespero, era o que eu lembrava.